quinta-feira, 21 de outubro de 2010

74% das obras do Metrofor estão prontas, diz governo

06/03/2010 - Diário do Nordeste - Marília Camelo



José Bastos: obras têm tirado a paciência de motoristas, mas Estado garante que transtorno vai ser recompensado
Parte das obras civis do metrô está pronta. Das 20 estações previstas, 17 possuem obras iniciadas 

Da ideia original surgida na década 1990 à execução da obra, nunca em sua história, o Metrô de Fortaleza se apresentou de maneira tão visível à população. Neste momento, não há exatamente nada pronto e acabado, mas os canteiros, que se estendem da Estação Xico da Silva, no Centro, à Carlito Benevides, em Pacatuba, já apontam sinais do que está por vir. 

Como num jogo de ligar pontos, faltam alguns dos traços que unem cada estação, mas de acordo com a Companhia Cearense de Transportes Metropolitanos (Metrofor), 74% das obras civis do Metrô já estão concluídas. Das 20 estações previstas na Linha Sul, apenas três ainda não possuem obras iniciadas. Nas demais, intervenções no solo e estruturas de concreto já estão sendo feitas. No Benfica, a fase já é de acabamento.

Até o fim deste ano, serão concluídos dois estágios do projeto para o início dos testes com os trens elétricos. E, no próximo ano, são mais duas fases para a conclusão total.

O cronograma de entrega das obras tem quatro prazos: até setembro, o trecho que vai da Estação Carlito Benevides (antiga Vila das Flores) até Aracapé deve ser concluído. Em dezembro, a companhia deve entregar a outra parte, que vai de Aracapé a Parangaba. Da estação localizada nesse bairro ao Benfica, a previsão é de término em setembro de 2011. Em dezembro, o trecho subterrâneo que vai do Benfica ao Centro, com conclusão total da Linha Sul, informou o assessor da presidência do Metrofor, Fernando Mota.

O presidente da companhia, Rômulo Fortes, concorda que, no ano passado, “começou a quebra de um impasse. Finalmente conseguimos destravar um contrato que estava quieto há mais de quatro anos. Entre os anos de 2002 e 2006, o andamento da obra esteve parado, e efetivamente só voltamos a trabalhar em 2007. Outra interrupção, que durou 40 dias, ocorreu em 2009”, pontuou. 

O presidente refere-se à retenção parcial dos recursos, R$ 65 milhões, por determinação do Tribunal de Contas da União (TCU), que afirmou a existência de irregularidades na construção do Metrofor.

Durante o tempo em que as obras ficaram paradas, foram gastos, em média, seis milhões de dólares com a manutenção dos canteiros, segurança e monitoramento. Ainda assim, muito material foi perdido, estragado, além de roubos de estruturas de aço, conta Fortes.

Em andamento

O Metrofor foi incluído entre os projetos prioritários de investimentos em infraestrutura do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), do Governo Federal. Isso significa que os recursos para a conclusão da primeira fase, a Linha Sul, estão efetivamente assegurados.

Com a verba finalmente liberada, as obras caminham. E como observam os moradores do entorno dos canteiros, desde o ano passado, o concreto se põe, as vigas e passarelas se elevam com celeridade.

A Linha Sul contempla 24 km em via dupla, sendo a maior parte, 18 km, em superfície; uma pequena parte subterrânea, 3,8 km, do Benfica ao Centro; e 2,2 km em elevado, nas estações Parangaba e Montese. A garagem de trens, a ser instalada em Pacatuba, no fim da linha, já se configura. Em setembro, já deve receber os veículos elétricos, velozes e não poluentes – pelo menos dois, dos 20 trens comprados de uma empresa italiana. 

A evolução é tanta que, em cada estação da Linha Sul, podem ser diagnosticadas as fases e a evolução das obras. O trecho entre Carlito Benevides e Esperança, onde devem existir estações em superfície, as obras de infra e superestrutura ferroviárias estão praticamente executadas em toda a extensão.

Do Conjunto Esperança até a Parangaba, onde os trabalhos devem ser concluídos até o fim do ano, estão sendo feitas fundações de passarela e estruturas de concreto, fixadas. Da Parangaba até o Benfica, ainda existem alguns entraves a serem resolvidos, entre eles, um desvio de tráfego a ser feito pela Autarquia Municipal de Trânsito, Serviços Públicos e Cidadania (AMC). “Será necessária uma interferência nas proximidades da Rua Padre Cícero e Avenida Carapinima. Como é uma artéria muito complicada, precisamos encontrar uma solução adequada, de modo que não haja transtorno. Para isso, já temos reunião marcada no órgão”, adianta Rômulo Fortes. 

Subterrâneo

Na outra ponta da cidade, onde as estações serão subterrâneas, entre o Benfica e o Centro, alguns trechos já estão bastante adiantados. Mas, na Estação Central Xico da Silva (antiga João Felipe), por exemplo, a licitação ainda está em fase de conclusão. Após a homologação do resultado, será assinada a ordem de serviço para o início pleno das obras. 

Onde, hoje, funciona o Beco da Poeira será construída a Estação José de Alencar. O túnel subterrâneo que vai até o local está sendo escavado, partindo da Estação São Benedito. Outra frente de serviço avança em sentido oposto, da Estação de São Benedito em direção à Rua Castro e Silva. As duas operam em regime 24 horas.

Janayde Gonçalves
Repórter

ENTREVISTA
Amíria Brasil*

“Impactos positivos serão percebidos só quando o metrô funcionar”

Nos últimos dez anos, quais foram as principais interferências que o Metrofor tem trazido para a cidade?

O que aconteceu até o momento foi uma demora na conclusão das obras, trazendo muitos transtornos. As obras interditaram ruas, desviaram percursos, enfim, causaram muitos problemas que são comuns a grandes intervenções em áreas urbanas. Quando analisamos o que já está concluído, as principais mudanças acontecem nas áreas de superfície e elevado, ou seja, na maior parte. No bairro da Parangaba, por exemplo, é grande interposição da estrutura do trem, que possui pilares robustos que se distribuem ao longo do percurso, além da estrutura horizontal onde correrá o trilho. Além do incomodo visual, a linha do metrô interfere também no uso do solo, principalmente na chegada dos pilares ao chão.

Quais os principais impactos, negativos e positivos?

Os impactos positivos serão sentidos somente quando o metrô estiver funcionando, o que vai facilitar o deslocamento de pessoas de outros municípios, Maranguape e Maracanaú principalmente, ou da região Sul da cidade, para o Centro. Esse deslocamento diminuirá o fluxo de veículos automotivos. Entretanto, a Linha Sul não trará muitos benefícios em relação à circulação das pessoas dentro da cidade, o que só será contemplado com a construção dos trechos Leste e Oeste. Os principais impactos negativos se darão nos lugares onde o metrô é de superfície ou elevado. Nesses trechos o metrô se consolida como uma barreira urbana, o que dificulta a relação entre um lado e o outro da linha, sua estrutura de sustentação cria essa sensação de barreira. O projeto teve também conflito com a existência da Estação de Trem da Parangaba, que é de grande importância histórica, visto que foi a partir da linha do trem que o bairro se consolidou. A estação foi tombada como patrimônio histórico municipal e o edifício teve que ser rebaixado, ficando a estrutura da linha poucos metros acima da cumeeira da estação. A meu ver essa foi uma boa solução, mas desvalorizou bastante a edificação e promoveu um problema que precisará ser solucionado pelo projeto urbanístico, pois a estação atualmente se encontra abaixo do nível da calçada.

Após a conclusão dessa obras, surgirão muitas alterações imobiliárias?

Além da barreira física, o metrô causa uma enorme poluição visual, alterando fortemente a paisagem. Isso desvaloriza os imóveis residenciais que se localizam nas áreas lindeiras à linha de metrô, que não terão as vantagens locacionais, como os comércios. Qualquer valorização imobiliária acontecerá somente nas áreas próximas às estações, onde a grande circulação de pessoas termina atraindo algumas atividades, como comércio e serviços.

*Arquiteta e Urbanista

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